23/05/2011

Duas Tchecas, três Holandesas e uma ideia (por Ricardo Rique)


Recentemente, uma ação publicitária em redes sociais foi ao ar para promover o lançamento da cerveja Proibida, fabricada pela empresa pernambucana CBBP (Companhia Brasileira de Bebidas Premium). A ação mostrava duas lindas mulheres manifestando, pela internet, o desejo de conhecer o nosso país. As denominadas “Tchecas do Brazil” foram parar na mídia impressa e em programas como o “Pânico na TV”, ganhando repercussão sem que ninguém soubesse que se tratava de uma campanha publicitária de uma cervejaria. A revelação de que as “Tchecas” eram garotas propaganda se deu no começo da semana passada. Só não revelaram quem foram os verdadeiros autores da ideia original que resultou nesse case inovador. Aproveitamos então para tornar público alguns fatos sobre esse assunto:
1) A agência CASA Comunicação, do Recife, atendeu a conta da CBBP entre 2008 e 2009. Criou o brasão da empresa e, durante o período, criou e apresentou, junto com o especialista em redes sociais, Maurício Nunes, a ação de pré-lançamento da cerveja da CBBP denominada, na época, de “Asten”, nome de uma cidade da Holanda.
2) Em breve resumo, a campanha apresentada aos diretores da CBBP mostrava três beldades holandesas interessadas em conhecer o Brasil, as festas, as pessoas e as cervejas do nosso país. Através de filmes com estética amadora postados no YouTube e em um blog criado especialmente para a ação, as garotas mandavam recados para os brasileiros e se preparavam para a visita, mostrando seus biquinis, arriscando palavras em português e danças da moda no Brasil. O projeto previa a visita das “Primas de Asten” ao país com aparição em festas e apoio de assessoria de imprensa para colocar as meninas na mídia. A estratégia era não fazer menção ao nome da cerveja e deveria envolver os internautas e a mídia em torno do assunto. As “Primas” se revelariam garotas propaganda da cerveja Asten no momento do lançamento do produto.
3) Em 2009 o cliente deixou de ser atendido pela CASA Comunicação e, algum tempo depois, passou a conta para as mãos de uma agência de São Paulo. É ela quem assina a campanha das “Tchecas do Brazil”, descrita no início deste texto. Aplaudimos a excelente execução da ideia e seu estrondoso sucesso, mas não podemos aplaudir o fato de a CASA Comunicação não ter sido identificada como idealizadora da estratégia.
4) Em nome da ética e do respeito à nossa profissão e para que se faça justiça aos profissionais que estavam envolvidos nesse projeto em 2009, não abrimos mão dessa autoria.
5) Queremos deixar claro que, somos sim, os verdadeiros autores de uma estratégia que foi apresentada a um cliente e depois utilizada, para esse mesmo cliente com o mesmo produto, sem a ciência e autorização da CASA. Temos arquivos, apresentações de keynote, vídeos de referências, layouts, testemunhas e emails trocados com os diretores da CBBP que podem comprovar nossa categórica afirmação.
6) Em comunicado à imprensa, a CBBP alega a possibilidade de ter havido coincidência, reconhecendo a semelhança evidente entre a nossa ideia e a campanha realizada (Texto extraído do blog do Adonis: “...Respeito o trabalho do Ricardo Rique, mas posso dizer que talvez tenha ocorrido coincidência de pensamento, a partir do nosso briefing...” - aalonso.blog.uol.com.br, em 17/05/2011.
7) Acreditamos na possibilidade de coincidências, sim. Elas são comuns no nosso meio e é mais do que natural que duas pessoas tenham ideias semelhantes em dado momento. Nesse caso, no entanto, o argumento não pode ser utilizado, já que o cliente viu a nossa campanha alguns meses antes e, tempos depois, ela ressurge na mídia com novas configurações, produzida para esse mesmo cliente, com os mesmos objetivos e a mesmíssima estratégia.
8)A troca de três mulheres “holandesas” por duas “tchecas” não configura algo novo. Como diz o próprio redator da agência de São Paulo, que descreve os bastidores da campanha: “(...) foi assim que começou nossa campanha viral para lançar uma nova marca de cerveja no mercado: a Proibida. (...) chegamos na ideia das Tchecas: duas vloggers gringas gostosas que iriam interagir com os internautas brasileiros e falar sobre a República Tcheca, sobre o Brasil, sobre cerveja etc. As duas viriam para o Brasil (...) (texto extraído do ccsp.com.br/ultimas, de 17/05/2011). Ou seja, estamos falando da mesma ideia.
9) Outra evidência é que, em um comunicado assinado pelo próprio cliente, seus diretores - os mesmos que assistiram a apresentação da CASA Comunicação em 2009 - aparecem como criativos na ficha técnica. Logo depois eles a retificaram informando que participaram apenas do planejamento. O que pra nós dá no mesmo. Aqui na CASA, criação e planejamento trabalham juntos.
10) Foi dito ainda que o valor de uma campanha não está somente na ideia, mas também na sua execução. Concordamos. Mas é bom que se entenda: sem ideia não há o que executar.
11) A essa altura dos acontecimentos, a CASA não vem agora a público reivindicar nome em ficha técnica, ressarcimento financeiro e nem propor qualquer tipo de punição judicial a quem quer que seja. Queremos apenas abrir um debate. Um debate que interessa ao mercado publicitário, às agências e seus profissionais, aos clientes, às entidades que representam a nossa categoria, aos jornalistas que cobrem o setor e, por consequência, aos consumidores.
12) A CASA propõe que se discuta o valor daquilo que é mais importante na nossa profissão: as ideias. Num momento em que o mundo da publicidade passa por transformações radicais, provando que estratégias criativas e inusitadas são mais eficientes do que grandes investimentos em mídia, está mais do que na hora de falarmos da importância daquilo que criamos. Esse debate deve estabelecer valores financeiros, princípios éticos e métodos concretos e precisos para proteger nossas ideias. Afinal, é por causa delas que somos contratados
13) A Abap tem discutido esse tema quando se trata de campanhas apresentadas em concorrências. Mas sugerimos que esse debate seja estendido a outras situações. Convidamos a todos os publicitários e agências (todas mesmo), a todos os clientes (todos mesmo), a tratar desse assunto com seriedade.
14) Essa é uma excelente oportunidade para fazer com que a campanha das “tchecas” (que um dia foram “holandesas”) seja um marco também por ter promovido uma discussão que pretende melhorar a relação de confiança entre profissionais, agências e anunciantes. Torcemos para que surjam ideias boas para que isso de fato aconteça.
Fonte: GogoJOB

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